Noberto Lobo | Rebeca Csalog

Um dos músicos mais acarinhados e discretamente prolíferos a operar neste pedaço ao longo destas últimas duas décadas, Norberto Lobo apresenta-se na SMUP a solo, num acto de revelação de passos futuros e sua relação com o seu próprio passado. Aparição sempre especial dada a sua relativa raridade, num período mais ou menos recente de ofício em que o temos visto maioritariamente activo em projectos colaborativos como Peachfuzz, Zarabatana, Chão Maior ou Oba Loba, e passados já seis anos desde a sua última edição em nome próprio - 'Estrela' pela three:four. Num acto contínuo com esse disco - onde contou com a benção de Yaw Tembe, Ricardo Jacinto e Marco Franco - e do trabalho que tem desenvolvido em trio com o baterista João Pereira e baixo de Ricardo Dias Gomes, Lobo abraça a guitarra eléctrica com toda a verve do jazz dos anos 50 e o calor de Noel Rosa e demais sambistas num léxico muito seu, onde uma técnica prodigiosa e rigor melódico se levam num fluxo intuitivo capaz de os recortar em temas tão memoráveis quanto abertos à indagação minuciosa da harmonia e da textura.

 

Uma linguagem vasta em referências e plena de visão que há muito lhe pertence, desde a estreia com o clássico 'Mudar de Bina' - invocação dos espíritos do fingerpicking de John Fahey ou Robbie Basho e do lirismo de Carlos Parede - e progressivamente depurada num sentido de descoberta capaz de instigar a ragga, os blues ou os sonhos da West Coast a novas configurações de luz e sombra em discos tão marcantes como 'Pata Lenta', 'Fornalha' ou 'Muxama'. E é entre o peso benigno desse seu legado e as visões para um novo disco que tem vindo, na sombra, a tomar uma forma cada vez mais definida que iremos encontrar Lobo neste palco, num vislumbre comunal deste work in progress sempre fascinante.

 

Harpista nascida em Lisboa com formação clássica mas uma visão ampla das coisas que a liberta para paragens fora dos domínios mais conservadores, Rebeca Csalog tem colaborado com artistas tão díspares como Alice dos Reis, Conan Osiris, Odete ou Tiago Sousa. Conhecedora do repertório mais clássico-contemporâneo mas aberta a influências menos canónicas, Csalog apresenta aqui peças suas num aprumo de sensibilidade e maravilha pela descoberta.